Por que o nome do blog!!!!

“A felicidade está na trajetória.”
Por Este motivo somos os amigos que temos as causas que defendemos aquilo que comemos nossa música, nossos filmes, nosso gosto ou não pela arte, poesia! Pessoas que têm sintonia com a gente
Neste espaço só tenho Este compromisso de viajar em meus doídos e doidos momentos!
Aqui terei até os presentes que dei, que ganho.

TUDO FAZ PARTE DO QUE SOU!

Além de isto ser uma viagem, pois sempre pensei que me conhecia, mas quero a essência e convido vocês para que façamos esta viagem juntos. VALERÁ A PENA!
À medida que for escrevendo, vou me descobrindo!
MINHA LEVEZA, POR DIAS, O PESO DAS ALMAS DO MUNDO, POR OUTROS DIAS!
Minhas feridas cicatrizadas, ainda por cicatrizar, meus momentos de grande importância e, até, histórias que conto.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

O HOMEM DO CADERNO AZUL


Foi quando eu segurava a lista de materiais para o filho caçula que eu o vi pela primeira vez. O sujeito perfeito: Moreno, alto, braços roliços, pele viçosa, sorriso cristalino. Sem pestanejar decidici:
-Vou levar este!
 Era como ter dito o glorioso "sim" a um desconhecido, às barbas de cristo no altar. Casei-me com aquele cara da capa do caderno. Não sabia o que aquilo significava e nem a que impulso impetuoso eu havia me deixado levar. Fazia tempo que eu não cedia a um arrebatamento momentâneo que extraviasse do comportamento normal de uma senhora casada. Aliás, este termo "senhora" é um desses rótulos antipáticos que carregamos por uma vida. Rótulos são como nomes de remédio, são nomes desgostosos por essência. E eu há tanto tempo carregava este insigne rótulo "senhora" e com ele uma bula que dizia que eu devia esfriar o umbigo na pia, sorrir respeitosamente, ser elegante, ponderada, equilibrada. E posso jurar que os efeitos colaterais de uma dose de mim ficavam escondidos por anos a fio, empoeirados, reprimidos dentro de algo que eu era. Onde andava a garota-rebelde, nas festinhas do clube da esquina ao som dos Beatles, fumando o seu cigarro e cuspindo deboches para todos os cantos? Certamente ela não havia morrido e estava sim, sufocada por obrigações, controlada por um rótulo. Era o "role-paper" de uma escolha. Fazer o que?
Este é o problema quando decidimos seguir o coro da burguesia fatigada e ociosa e nos casamos. Maldito bovarismo! Logo estamos sobrevivendo como robôs, escovando  dentes sempre no mesmo lugar e com a mesma mão, logo o sexo se torna mecânico, vicioso e o carinho se esgotam, e quando não se esgota, fica plástico com um quê de obrigação. Logo também as nossas atitudes se mecanizam, decoradas para neutralizar de um tudo. E se a vida se encarrega de "mudar os sentimentos” como dizem as más literaturas de auto-ajuda, e eu diria que o tempo transforma a figura do homem amado numa caricatura ríspida, um saco de mágoas ambulantes, e a vida se encarrega também de transformar a nós mulheres seres de borracha- verdadeiros isolantes elétricos que vivem a equilibrar tensões por todo canto. A vida nos santifica.
Só pode ser coisa do todo poderoso. Será?

Entrei no carro e o homem sorria para mim (o homem do caderno). Lindo, de peito nu, sem queixas ou reclamações, sem gestos que eu conhecesse de cor, ou julgasse, sem pirraças, sem críticas destrutivas. Foi comigo, ao meu lado, apenas sedutor e sorridente. Parei num sinal interminável, e me ocorreu que eu era uma mulher infiel, traindo descaradamente em pensamento. Aliás, outro rótulo bobo era este sobre traição em pensamento, somos livres para pensarmos o que quisermos, e eu por tanto tempo havia me esquecido disso, apenas engolindo comprimidos, decorando rótulos, sendo parte deles. Solucei, arranquei o carro e me entreguei de vez- Imaginava ali, com os olhos ao retrovisor,  um quarto com vista pra uma montanha gélida e eu de afagos calientes com aquele homem. Calcinha lançada na lareira num gesto de libertação. Girava a marcha no câmbio e tinha sensações pecaminosas! A textura de couro me excitava. Pela primeira vez o câmbio enrijecido não me irritou. Prossegui ali, sorrindo, só. Eu e ele, o homem da capa do caderno...

Cheguei a casa e subi as escadas ávida, numa ânsia de prová-lo. Tirei os sapatos, relaxei o pescoço com as mãos, deixei-o ali, sobre a cama, sorrindo para mim mesma enquanto me despia, sensualmente. Envolvi-me com aquilo como num surto de libertação, me entreguei de alma àquele amante de capa de caderno. Que problema havia? Eu era uma mulher solitária, e estava légua longe de mim mesma, inundada em afazeres domésticos. E de repente eu sentia arrepios, imaginava coisas e gostava... Não era pecado, não podia ser. E se fosse? Quem se importaria com esta pobre mulher solitária que encontrou um caderno mágico?

Deitei-me na cama e senti, como uma tempestade me tomando em um instante. Era um sentimento novo: pena de mim mesma, pena de ter enxergado as coisas como são. Tive vontade de chorar. Nos ombros do homem da capa do caderno? Não. Tive vontade de chorar diante do espelho, vendo meus olhos cansados, chorar teatralmente para mim mesma. Quis experimentar pedaço a pedaço da minha própria dor, de nomear e categorizar aquela solidão. Solidão estranha esta, de ser casada de ter filhos, de ter tudo e não bastar a si mesma. Solidão a dois. Eu e meu homem qualquer que fosse ele, o homem com quem eu havia me casado há anos e o que ele foi e é, ou mesmo aquele homem da capa do caderno. Eu sabia que isso ou aquilo jamais iriam suprir este vazio. (...)

Abri aquele objeto estranho às minhas mãos, como quem abre um baú secreto de memórias, guardado em um canto da mente. Observei tristemente a cada linha azul, acabando-se, e recomeçando num movimento infinito. As sórdidas linhas de um caderno, sórdidas como as linhas que se formavam ao redor dos meus olhos. Vazias linhas, denunciando algo mais do que os efeitos do tempo, uma mulher vazia ou talvez apenas mais uma "senhora" sobrevivente de um casamento, viciada em seu cotidiano infeliz.
Senti impulsos infantis e adolescentes de rever a minha letra, o meu modo de segurar a caneta, o meu jeito esquecido de me expressar. Quando dei por mim, estava eu rabiscando assim:

 “... Foi quando eu segurava a lista de materiais para o filho caçula que eu o vi pela primeira vez: o homem da capa do caderno...”

De modo que comecei a escrever numa ânsia de compreensão e perdão para mim mesmo. Pus-me a escrever sob as minhas linhas vazias... E já não era uma senhora e seu caderno e sim uma mulher e seu amante...


 (a Cris Poulain)

TEXTO DE WENDY, BLOG APETITO!

Um carinho que ganhei em um dia que precisava!
Chorei muito...
Primeiro porque veio de alguém em quem acredito, sou boa para para reconhecer amigos. Depois por o afago ter sido de uma mente muito DELICIOSA e valiosa.
De alguém que faz tenta fazer tudo mais BONITO...
Pela leitura linda que fez da vida, que pode ser minha, ser tua, ser de qualquer mulher! Mas, principalmente, por termos uma grande diferença de idade.
E,mesmo assim,termos,sincronia.
Sou meninas e mulheres!
Obrigada pela poesia do texto...
Obrigada por tentar me fazer feliz...

1 comentários:

Hermina!!!! disse...

Oi Cris!
Lindo o texto que recebeu de sua amiga Wendy.
Bem escrito e de ricas reflexões sobre o cotidiano de uma mulher, adorei o poder imaginativo dela, possibilitou-me acompanhar a cena passo a passo.
Adoro pecados!
escrever com ânsia sobre as aventuras do amor.
Beijos!!!

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