Certa vez, um grupo conhecido iniciou animada conversa a respeito de algo que qualquer um julgaria constrangedor a mim, mas perdoei-lhes sob o pretexto de estarem “somente empolgados”. Mas quando em outra data e local, um segundo grupo pôs-se a dialogar sobre assunto do qual o bom senso polparia meus ouvidos também, percebi que na verdade eu não estava ali para eles. Não estava ali para ninguém.
Mas a coisa se agravou mesmo quando até os amigos de longa data e parentes próximos passaram a não me procurar para contar mazelas e segredos. Suas caras apáticas diante da minha opaca presença.
E isso tudo pra não falar dos esbarrões e trancos que passei a receber de todos a minha volta, na rua, no trabalho, desacompahados de qualquer pedido de desculpas. Estranhos e conhecidos obstruindo minha passagem como se naqueles locais eu nunca tivesse estado.
Me senti, por vezes, sozinho no meio da multidão.
Mas com certeza, a última fase do processo que me transformou num homem invisível se deu quando, motivado pelo desejo de não mais me sentir só, passei também a ignorar as pessoas e o mundo a minha volta, arrastando minha etérea existência por aí, destituído de esperanças e expectativas. Triste, — porém mais livre do que qualquer fantasma jamais poderia ser.